As leis que regem os bens, no tocante à sua característica econômica; o comportamento da demanda e da economicidade dos bens de ordem superior; o papel central do Homem na determinação da economicidade; o cálculo econômico e o sistema de preços a partir da economicidade de bens superiores e sua posterior maximização.
§3. A origem da Economia humana e os bens econômicos; c) As leis que regem os bens, no tocante à sua característica econômica:
Menger, no decorrer de nossa investigação de seus "Princípios", escrito em 1871, dialogamos por algum tempo sobre a natureza da demanda dos bens de ordem superior e de como ela é condicionada, de forma consonante com a demanda humana por seus bens correspondentes de ordem inferior. Quando digo bens correspondentes, quero dizer que são aqueles em que, através do processo de produção e/ou maximização da eficiência produtiva, os agentes econômicos estabeleceram algum nexo causal entre determinado bem de ordem superior que, a partir do processo produtivo, concorre para a produção de determinado bem de ordem inferior. Esse bem de ordem inferior poderá satisfazer nossas necessidades através de sua utilidade (nesse caso o bem seria um bem de primeira ordem) ou ele poderá concorrer para o processo produtivo de um outro bem de ordem inferior a esse, amplificando a cadeia intricada e volumosa de nexos causais que, como vimos em outros capítulos, corrobora com a eficiência produtiva e maximização dos recursos disponíveis.
Nessa vereda, Carl Menger proferiu a seguinte máxima: "nossa demanda de bens de ordem superior é condicionada pela característica econômica dos bens correspondentes de ordem inferior". Ou seja, um bem de ordem superior só é demandado se, por alguma razão houver uma demanda marginal pelo seu bem de ordem inferior correspondente, já que, a demanda de um determinado bem superior, só é justificada quando, através do estabelecimento de nexos causais entre esse bem de ordem superior e um bem de ordem inferior.
Caso contrário (se não houvesse demanda pelo bem de ordem inferior correspondente), não haveria necessidade de guarnecermos desse bem de ordem superior, já que a sua utilidade (capacidade de satisfazer necessidades humanas, transformando estados de necessidade em estados de satisfação) é mensurada proporcionalmente na medida em que, determinado bem de ordem inferior que esse bem de ordem superior concorre na produção tem a capacidade de suprir nossas necessidades. Uma vez que determinado bem de ordem superior (suponhamos que esse bem de ordem superior concorre apenas na produção de um bem de ordem inferior específico, sendo sua utilidade limitada apenas nessa produção) é utilizado apenas quando seu bem de ordem inferior é demandado, ou seja, apenas quando esse bem de ordem inferior específico é produzido, então há, inerentemente, uma relação de dependência entre a demanda de bens de ordem superior para com a demanda de bens de ordem inferior. A última condiciona a primeira.
Agora, se, ao contrário do nosso objeto de investigação do último parágrafo, determinado bem de ordem superior for utilizado em diversos tipos de produções, uma vez que ele serviu como "elo" na corrente de nexos causais interligados ao longo da história do processo produtivo cataláctico, temos uma situação parecida com a primeira, uma vez que a demanda por esse bem de ordem superior continuará sendo estipulada através da demanda dos agentes econômicos pelos seus bens correspondentes de ordem inferior, mas agora, essa demanda por esses determinados bens de ordem superior será muito menos elástica, uma vez que, concorrendo em diversos nexos causais para bens de ordem inferior, a demanda pelo bem de ordem inferior estará ligada a uma ampla gama de bens de ordem inferior.
O minério de ferro, por exemplo, é um bem de ordem superior que está relacionado a diversos nexos causais entre processos de produção, portanto o seu papel como "elo" na cadeia produtiva é crucial. Sua presença influencia não apenas uma, mas várias etapas no processo cataláctico. Considere a indústria automotiva, a construção civil e a fabricação de equipamentos eletrônicos, todas dependendo do minério de ferro em suas fases de produção. A demanda por minério de ferro, nesse cenário, não é apenas impulsionada pela necessidade direta dos agentes econômicos de um determinado bem de ordem inferior, mas também pela demanda dessas indústrias por seus próprios bens de ordem inferior. A elasticidade da demanda, no entanto, é notavelmente menos flexível, pois o minério de ferro compete em diversos elos da corrente produtiva, e as variações na demanda por bens de ordem inferior podem ser mitigadas por uma ampla gama de substitutos e ajustes nos processos produtivos.
Vê-se então, que o estabelecimento de nexos causais cada vez mais complexos compete para a maximização da utilidade quando se trata da produção e elaboração de recursos, amparado pelo sistema de preços que, em um mercado livre reflete as condições da demanda e oferta por determinados bens, torna a satisfação das necessidades mais prementes um processo dinâmico e eficiente. Esse reflexo das condições de mercado no sistema de preços não apenas orienta os produtores na alocação eficiente de recursos, mas também desempenha um papel crucial na satisfação das necessidades mais urgentes da sociedade. A interconexão entre os nexos causais complexos e a formação de preços em um mercado livre proporciona uma abordagem ágil para atender às demandas em constante evolução, contribuindo, assim, para a maximização da utilidade na produção e elaboração de recursos. Portanto, bens de ordem superior que não tiveram as suas possibilidades de nexos causais exploradas, seja pelas barreiras tecnológicas ou cognitivas, podem, em determinado momento, quando for estabelecidos nexos causais mais longos, interconectando esse bem à outros de ordens inferiores, se tornarem bens escassos e econômicos. Quando esse dia chegar, bens que eram subutilizados, pois suas capacidades no processo produtivo eram desconhecidas, passarão a ser amplamente utilizados dentro da dinâmica dos nexos causais da cadeia de produção, colaborando para a máxima eficiência dos recursos econômicos e suprindo as necessidades de cada vez mais agentes econômicos.
A partir do ponto de vista da economicidade de bens de ordem superior, quando dentro de uma perspectiva com os seus respectivos bens de ordem inferior, Menger destaca: "a característica econômica de bens de ordem superior é condicionada pela característica de bens de ordem inferior para cuja a produção concorrem; em outras palavras, nenhum bem de ordem superior pode ter característica econômica, a não ser que sirva para a produção de bens de ordem inferior". O que Menger postulou, foi que, se os bens de ordem inferior, a quem os bens de ordem superior são ligados a partir do nexo causal estabelecido no processo produtivo não tiverem a característica da economicidade (lembrem-se que a economicidade de um determinado bem é a capacidade da sua demanda superar a sua oferta, tornando-os escassos), logo, por inferência lógica, podemos dizer que os seus bens superiores subjacentes também não serão bens econômicos. Como dissertamos anteriormente, a demanda e, portanto, a economicidade de um bem de ordem superior está intrinsecamente ligada a demanda e a economicidade de um bem de ordem inferior, uma vez que ele só possui demanda efetiva quando demandam o bem de ordem inferior, que é o bem que efetivamente supre as necessidades dos agentes econômicos.
Menger então, conclui magistralmente: "De nossa exposição resulta, no entanto, que o homem, com suas necessidades e seu controle sobre os meios de satisfazê-las, constitui o ponto de partida e de chegada, a meta de toda a economia humana. O homem sente, antes de tudo, necessidade de bens de primeira ordem, e faz dos bens cuja quantidade disponível é menor que sua demanda objetos de atividade econômica, ou seja, faz deles bens econômicos, não encontrando, com referência aos outros, necessidade de fazer deles objeto de sua atividade econômica. Posteriormente, a reflexão e a experiência conduzem as pessoas ao conhecimento mais profundo do nexo causal entre as coisas, sobretudo do nexo causal de seu bem-estar, travando, então, conhecimento com bens de segunda, terceira e de outras ordens superiores (...)". Menger ainda versa sobre quais bens de ordem superior os agentes econômicos produzirão buscando a maximização dos recursos e, consequentemente, fruto dessa maximização pelo sistema de preços, o lucro. Essa maximização se dá ao produzir os bens de ordem superior mais escassos, ou seja, mais econômicos.
Menger, no parágrafo anterior, resumiu magistralmente como funciona o cálculo econômico microfundamentado, baseado na maximização de recursos e da produção de bens econômicos com base no aprendizado continuado, base do paradigma empirista no contexto epistemológico, onde, primeiramente os agentes econômicos que são naturalmente limitados pelos seus limites cognitivos para o processo de maximização, não se atentaram para a economicidade a partir do gozo dos bens de primeira ordem. Passado esse primeiro momento, os agentes econômicos estabeleceram nexos causais, resultando em uma "explosão" de produtividade e maximização das utilidades, agora em diferentes níveis e ordens produtivas. Essa expansão dos nexos causais estabelece paradigmas limitantes no tocante à economicidade de bens de ordem superior (uma vez que, pelo gozo natural e satisfação das necessidades, os bens de primeira ordem se tornaram bens econômicos), que possibilitam, através do sistema de preços e da posterior divisão do trabalho com base em ditames maximizadores e contextuais, a eficiência na alocação de recursos e na produção de bens econômicos.
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