A demanda por bens de ordem superior; a interdependência da demanda entre bens de ordem superior; demanda latente e demanda efetiva; a necessidade da produção em sincronia de diversos agentes produtivos para gerar demanda efetiva.
§1. A demanda humana; b) A demanda de bens de ordem superior: Menger introduz o conceito de demanda por bens de ordem superior, e, além disso, nessa seção do texto, Menger faz a inferência de que, se estivermos, a partir do cômputo das necessidades futuras de satisfação das necessidades humanas, as respectivas necessidades estiverem supridas a partir de bens de primeira ordem, a demanda futura por bens de ordem superior será condicionada a partir do suprimento efetivo angariado pelos bens de primeira ordem. Ou seja, se já possuímos bens de primeira ordem em previdência para um período vindouro, não necessitaremos de bens de ordem superior, uma vez que, a partir da quantidade suficientemente grande em estoque para períodos futuros, mensurada em nosso cômputo informacional, que baseia-se em inferências de caráter empíricas, a satisfação de todas nossas necessidades estariam garantidas, uma vez que elas só são satisfeitas a partir de bens de primeira ordem.
Agora, se a partir desse planejamento, ficar claro que não se possuirá bens de primeira ordem suficientes para suprir as necessidades futuras (a partir da inferência lógica individual), surgirá uma uma demanda por bens de ordem superior. É evidente, portanto, que, na falta de bens de primeira ordem futuros, precisaremos produzir a partir dos bens de ordem superior, os bens de primeira ordem que necessitamos para satisfazer-nos as nossas necessidades.
É evidente, portanto, se no mundo real existissem bens de primeira ordem em abundância, em quantidades suficientes para satisfazer todas as necessidades imediatas e futuras dos homens, não seria necessário a produção a partir de bens de ordem superior, a não ser da necessidade que poderia nascer de criar novos bens de primeira ordem para satisfazer novas necessidades.
Essa demanda nascente dos bens de ordem superior só é limitada a partir dos nexos causais que existem entre os diversos bens de ordem superior, os bens complementares e os bens de primeira ordem, ou seja, essa cadeia de nexos causais e a demanda por eles é limitada qualitativamente pelos tipos de bens de ordem superior que podem ser utilizados na produção de bens de primeira ordem. Por exemplo, quanto mais avançada é a produção de um tipo de indústria, maior a quantidade de bens de ordem superior utilizará essa produção; portanto, um novo insumo utilizado nessa indústria, que antes não tinha nenhuma propriedade útil para a produção do bem de primeira ordem em si, tem a sua demanda acrescida a partir do momento que é estabelecido o seu nexo causal com outros bens de ordem superior e, consequentemente com o bem de primeira ordem que é o objetivo da produção.
Menger então, estabelece o seguinte parâmetro: "Só podemos utilizar quantidades de bens de ordem superior para produzir determinadas quantidades de bens de ordem inferior - para o atendimento concreto de nossas necessidades - se, ao mesmo tempo, estivermos em condição de dispor das quantidades complementares dos demais bens de ordem superior". Nesse trecho, Menger quer dar ênfase na cadeia de nexos causais, que é extensa e engloba uma quantidade infinitesimal de relações entre os próprios bens de ordem superior, demonstrando assim, que antes de ser estabelecido o nexo causal entre o bem de segunda ordem para com o bem de primeira ordem, uma cadeia de nexos causais que deságuam nessa relação é muito mais extenso do que o que se parece, e, muitas vezes essa relação é marginalizada pelos estudiosos, uma vez que a relação dos nexos causais mais próximos ao bem de primeira ordem é mais palpável para o investigador. Menger exemplifica essa relação: "não podemos utilizar da terra (bem de terceira ordem) de que dispomos - por mais extensa que seja - para cultivar trigo (bem de segunda ordem) - mesmo em quantidade mínima - se, ao mesmo tempo, não dispusermos das quantidades (complementares) de sementes, de mão-de-obra etc. (outros bens de ordem superior) necessárias para a produção de trigo, mesmo que em quantidade mínima". Aqui, além de uma relação qualitativa, vê-se uma relação quantitativa, uma vez que para cultivar uma pequena quantidade de trigo, é necessário uma quantidade específica de cada bem de ordem superior da cadeia de nexos causais.
A demanda por pão (bem de primeira ordem), uma vez que é um bem escasso e reproduzível a partir de bens de ordem superior e seus respectivos bens complementares, induz a demanda para o resto dos bens de ordem superior. Além disso, a quantidade de pão para a satisfação das necessidades presentes e futuras que é determinada a partir dos cálculos dos indivíduos que consomem ou pretendem consumir esse bem de primeira ordem, determina a quantidade de outros bens de ordem superior a serem produzidos. Percebe-se aqui, aquela relação que mencionamos no início dessa seção, a de que, se houvessem pães suficientes para a satisfação das necessidades dos indivíduos, os bens de ordem superior não seriam necessários para a produção do bem de primeira ordem em questão (pão). Mas, a partir do estabelecimento de nexos causais com outros bens de primeira ordem, esses bens de ordem superior seriam incluídos em outras cadeias de nexos causais, e, se esses outros bens fossem escassos, haveria uma demanda na proporção que é determinada pela eficiência produtiva de determinada indústria, entre o bem de primeira ordem demandado e os bens de ordem superior na cadeia de nexo causal.
Ainda sobre a demanda de bens superiores, Menger complementa: "nunca ocorre demanda de um só bem individual isolado de ordem superior; o que acontece é que, toda vez que a demanda de um bem de ordem inferior não for atendida, ou só for atendida parcialmente, ocorre sempre a demanda de cada um dos bens correspondentes de ordem superior, juntamente com a demanda quantitativa correspondente de bens complementares de ordem superior". Quando Menger diz que nunca ocorre demanda de um bem isolado de ordem superior ele explicita que os bens superiores apenas possuem demanda a partir do momento que estabelecem um nexo causal com um bem de primeira ordem ou com um bem de ordem inferior que, por sua vez, possui um nexo causal com um bem de primeira ordem. Menger ainda estabelece que, quando a demanda por um bem específico de ordem inferior não é totalmente atendida, surgem demandas concomitantes por todos os bens correspondentes de ordem superior que participam na produção desse bem. Ora, essa afirmação é evidente quando temos em mente que, a partir da escassez perante a demanda do bem de ordem inferior, será necessário produzir esse bem a partir dos bens de ordem superior, e é a partir dessa interdependência estabelecida pelo nexo causal que esses bens de ordem superior possuem demanda.
A partir dessa inter-relação entre bens de ordens distintas e suas dependências no que tange a demanda que foram tratadas acima, traçamos a definição de demanda latente e demanda efetiva. Em Menger, a "demanda efetiva" refere-se à demanda real e atual por bens que os consumidores estão prontos para adquirir no mercado. É a expressão manifesta da necessidade de bens que os indivíduos buscam satisfazer imediatamente. Por outro lado, a "demanda latente" representa uma forma potencial de demanda que ainda não se concretizou no mercado. Refere-se às necessidades não satisfeitas ou desejos que os consumidores podem ter, mas que ainda não se traduziram em ações de compra. Menger estabelece que, em determinados períodos futuros, a demanda efetiva de bens de ordem superior dependem das quantidades complementares dos bens correspondentes de ordem superior. Dessa forma, para poder-se realizar a demanda efetiva, é necessária a oferta de bens de ordem superior para produzir os outros bens de ordem inferior relativa ao primeiro.
Menger evidencia a situação da demanda efetiva e da demanda latente a partir da exemplificação da diminuição das exportações de algodão bruto dos Estados Unidos para a Europa durante a Guerra Civil Americana. Com a diminuição da quantidade disponível de um dos bens de ordem superior (algodão bruto), a consequência natural foi que parte da demanda de outros bens de ordem superior complementares do algodão bruto (mão-de-obra específica, máquinas, etc.) se tornou latente, uma vez que, como inferiu Menger, para a efetivação da demanda de um determinado bem de ordem superior, exige que tenhamos disponíveis as quantidades correspondentes de outros bens superiores.
Portanto, podemos enxergar essa interdependência produtiva entre os bens superiores em diversos setores da economia. Uma vez que em uma sociedade de mercado suponhamos que outras pessoas produzirão outros bens de ordem superior complementares ao que eu produzo e que, a partir das trocas voluntárias desses bens de ordem superior serão combinados para gerar bens de primeira ordem que atendam às diversas necessidades dos consumidores. Essa interdependência produtiva entre os diferentes setores da economia é um reflexo da divisão do trabalho e das trocas que ocorrem em uma sociedade de mercado, além do estabelecimento complexo de nexos causais entre diversos bens de ordem superior. Tendo em vista esse cenário, podemos inferir que, em uma sociedade de mercado, para efetivar a demanda de determinados bens de ordem superior, é necessária a produção (geralmente por outros agentes de mercado) de outros bens complementares, também de ordem superior, e que, no final dessa complexidade de nexos causais entre produtores e seus bens de diferentes ordens, é necessário um bem de primeira ordem que tenha a capacidade, por meio de sua utilidade relativa, de suprir um estado de necessidade e transformá-lo em um estado de satisfação.
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