O zelo pelas necessidades; Demanda pessoal; a dimensionalidade presente e futura no reconhecimento da demanda pessoal; a previdência; a sociedade como meio eficaz de proporcionar a satisfação das necessidades humanas; meios de contabilizar a previdência.

Capítulo II - A Economia e os Bens Econômicos: "As necessidades derivam de nossos instintos e impulsos, e estes estão radicados em nossa natureza", nesse trecho, Menger reconhece a máxima de que, a natureza humana é, inevitavelmente, pela sua própria condição natural, dotada de necessidades. E, essas necessidades são originadas por instintos e impulsos, muitas vezes involuntários. 

"... o não atendimento das necessidades tem como consequência o aniquilamento, levando o atendimento insuficiente à mutilação de nossa natureza". O não atendimento das necessidades humanas levará o ser à sua aniquilação. A aniquilação do indivíduo vai contra toda e qualquer teoria de autopreservação e contradiz a essência da evolução biológica, que preconiza a adaptação constante para garantir a sobrevivência. O não atendimento das necessidades do ser, e a mudança subjacente à esse angariamento dos bens de primeira ordem utilizados para suprir essas necessidades causará, no final do processo do estado de necessidade latente ao perecimento do indivíduo que necessita de certo bem. A condição de consumo de bens de primeira ordem é uma necessidade premente do indivíduo, naturalmente concebido e disposto para supri-las. O estado de necessidade, portanto, é um impulso de um organismo pré-concebido e disposto para o consumo de bens de primeira ordem, a condição de consumir é uma condição natural do ser-humano.

Menger conclui, inferindo que, já que a condição de existência dos organismos é o consumo de bens de primeira ordem, o zelo pelo atendimento de suas necessidades e a sua transformação em estados de satisfação constitui no mais importante dos empenhos humanos, já que todos os outros empenhos, materialmente falando, necessitam da causa primeira do indivíduo estar vivo.  

Esse zelo para com a própria vida é manifestada na vida prática a partir da posse dos indivíduos para com os bens que estes necessitam para a sua sobrevivência. A partir desse contexto, Menger define demanda como: "a quantidade de bens de que uma pessoa necessita para atender às suas necessidades". Assim, conclui Menger, "a preocupação do homem pela conservação de sua vida e de seu bem-estar transforma-se em preocupação em atender à sua demanda pessoal". 

A partir da definição de demanda para Menger, podemos inferir que, em sua teoria, a demanda é uma medida variável e pessoal, uma vez que cada indivíduo possui a sua própria demanda pessoal, quantitativamente ligada às suas necessidades. Essa abordagem individualista destaca a diversidade de preferências, prioridades e circunstâncias que moldam a demanda de cada pessoa, tornando-a um fenômeno altamente subjetivo. Diferentemente dos economistas da Escola Clássica, da Escola Historicista Inglesa e da Escola Historicista Alemã, que simplesmente reduziam a demanda a uma expressão de necessidades objetivas, Menger introduz uma perspectiva mais holística e orientada para o sujeito. A demanda, em sua teoria, não é apenas um reflexo de carências universais, mas sim uma resultante intricada das escolhas individuais, motivações e preferências específicas de cada agente econômico.

A partir da visão subjetiva de acordo com as suas necessidades de bens, os indivíduos podem possuir diferentes demandas de acordo com uma miríade imensa de fatores endógenos e exógenos. Ou seja, apesar dos homens serem dotados de uma necessidade importantíssima, de caráter qualitativo, que pressupõe a necessidade por bens para a manutenção da própria vida, as diferenças subjetivas de o quanto é necessário para satisfazer cada indivíduo, além das projeções e fatores subjetivos definidos por cada indivíduo, além da materialização dessa necessidade em ação efetiva, difere quantitativamente entre os indivíduos. 

Ou seja, a necessidade é o fator de caráter qualitativo que aflige todos os homens, determinando que cada um possuirá uma demanda, independente de qualquer coisa, porém, o caráter quantitativo dessa demanda será pessoal e subjetivo, cabendo a cada indivíduo, através de suas ações efetivas para angariar bens e suprir suas necessidades presentes e futuras determinará a quantidade de sua demanda pessoal.

Agora, Menger introduz a dimensão temporal no conceito das avaliações dos indivíduos para com as suas necessidades futuras, dizendo "pouco segura seria a satisfação das necessidades, e, portanto, das exigências da vida e do bem-estar, se as pessoas só se preocupassem em atender sua demanda de bens no momento exato em que as necessidades de bens concretos se fazem presentes". Portanto, como explicitamos acima, os indivíduos, quando avaliam suas necessidades de bens, também tendem (alguns com maior intensidade, outros com menor intensidade) a estabelecer uma quantidade determinada de previsão de necessidade futura, a partir da inferência de cenários já existentes e/ou experiências passadas. 

Com isso, a necessidade dos homens por bens não é apenas fruto da necessidade iminente de bens de primeira ordem, mas também da sua expectativa de necessidade futura, dado um cenário previsto. Tendo isso em vista, podemos dizer que os homens, reconhecem a sua própria natureza no mesmo tempo que reconhecem que necessitarão de bens em um momento futuro, pois projetam suas necessidades através do tempo, de forma a zelar por sua existência até mesmo sobre uma ameaça futura.

Menger ainda estabelece uma diferenciação entre homens civilizados e evoluídos para com os demais indivíduos, com os primeiros empenhados em "assegurar os meios para o atendimento de suas necessidades, não somente por um curto período, mas por anos seguidos, quiçá por toda a vida". 

Vamos relembrar que Menger, no capítulo passado, também estabeleceu que, em uma sociedade evoluída, os processos de produção, refinamento e transformação de bens, utilizarão cada vez mais bens de ordens superiores, estabelecendo cadeias de nexo causal cada vez mais intricadas e, com isso, angariarão produtividade para o setor em questão. 

Aqui, Menger complementa essa noção, adicionando o componente da poupança, que é a responsável por garantir o suprimento desses bens para tempos futuros. Portanto, a utilização de bens de ordem cada vez maior na produção de bens de primeira ordem garante produtividade, enquanto a visão de longo prazo para essa produção, traduzida materialmente na poupança destes bens, garante um estoque que garantirá às necessidades humanas em tempos onde a produção diminuir seu ritmo ou parar completamente. Esses dois fatores distinguem modos de produção arcaicos e defasados de métodos de sucesso.

Mercadologicamente, na organização espontânea da sociedade civil, a partir da divisão do trabalho - que, por sinal, só pode ser consequenciado a partir da busca por bens de ordem superior e sua implantação na cadeia produtiva, que foi traduzida pelo ganho de eficiência, permitindo que menos indivíduos cuidassem das necessidades imediatas dos indivíduos e se especializassem em tarefas específicas, nascendo assim a divisão do trabalho smithiana que todos já conhecemos muito bem - formaram-se indivíduos que, a partir de seu trabalho presente, trabalharão com contingências reais de pessoas que não conhecem em um futuro, próximo ou distante. 

Ou seja, só a partir do aprimoramento das condições materiais da sociedade traduzidas em: utilização de bens de ordem superior (cada vez maiores) no sistema produtivo, angariando eficiência; a divisão do trabalho subsequente; e a poupança de bens acumuladas para atender contingências futuras; é que os homens, organizaram espontaneamente a sociedade civil e e estabeleceram um arcabouço institucional que reflete e satisfaz, pelo menos com um sucesso relativo, à inerente condição humana da eterna necessidade por bens.

Sobre a poupança (previdência), Menger estabelece dois pontos que os homens, no processo de mensurá-la, planejá-la e estabelecê-la, deverá se atentar:

a) devemos ter clareza sobre a nossa demanda, ou seja, as quantidades de bens de que precisamos para atender às necessidades nos espaços de tempo em que se estende nossa previdência (reconhecer quantitativamente nossa demanda pessoal, tanto presente quanto futura); e

b) devemos ter clareza sobre as quantidades de bens que dispomos atualmente para alcançar o objetivo acima (contabilizar o nosso patrimônios e reconhecer quais são as condições para alcançar a quantidade necessária de que a nossa demanda pessoal necessitará). 

Simplificando esses temos, o item "a" diz respeito a quanto utilizar na previdência, e o item "b" como angariar a previdência.


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