O papel da oferta na teoria econômica mengeriana; a análise econômica microfundamentada como fonte de informações; a eficiência na utilização dos recursos econômicos e como a quantificação da abordagem microfundamentada pode auxiliar; a importância de mensurar os próprios recursos e os recursos alheios.

§2. As quantidades disponíveis de bens: Na nossa análise passada da obra "Princípios", de Carl Menger, discutimos e abordamos alguns temas que tangem a demanda pelos bens de primeira ordem e de ordens superiores, além da sua relação subjacente com a dimensão temporal da produção. Agora, vamos explorar a teoria mengeriana no tocante à demanda de bens e suas implicações práticas e teóricas com a complexidade econômica.

Inicialmente, Menger então racionaliza e introduz a dimensão da oferta e seu papel no planejamento dos agentes econômicos em um cenário onde os bens são econômicos, e, portanto, escassos. Importante relembrar que, durante a obra de Menger, o autor utiliza de princípios e tratativas para com os bens que reproduzem o seu funcionamento em uma economia real, ou seja, ele raramente isola um dos componentes de determinado conceito para explicitá-lo de forma deslocada do ambiente econômico, e, portanto, escasso. Pelo contrário, Menger, mantém todas as dimensões econômicas e tenta amalgamar os conceitos levando em consideração a "natureza" da economia e suas implicações subjacentes. 

Menger então, para introduzir o conceito de oferta e sua relação com a previdência, infere: "Se, por um lado, é correto afirmar, que, em qualquer atividade humana, a consciência clara do objetivo dos esforços compreendidos constitui fator essencial para o sucesso, por outro lado, é igualmente certo que, o conhecimento da demanda dos bens em períodos futuros representa o primeiro pressuposto de qualquer previdência orientada para o atendimento das necessidades humanas". Portanto, na teoria mengeriana, além da tratativa que evidencia a importância da produção e de seus métodos subjacentes (que já foi discutida anteriormente, nos termos da utilização de cada vez mais bens de ordem superior, estabelecendo novos e intricados nexos causais e da divisão progressiva do trabalho e a consequente especialização da mão-de-obra), agora, o autor discute a importância da quantificação da oferta futura de bens disponíveis para o agente econômico, seja para utilizá-lo na satisfação de suas necessidades diretamente ou para a satisfação das necessidades de terceiros e, em último grau, a sua própria satisfação.

Essa quantificação é importantíssima no cálculo econômico microfundamentado  pois é a partir dela que o agente econômico poderá tomar decisões racionais sobre a alocação de seus recursos escassos. A quantificação da oferta futura de bens permite ao agente econômico avaliar as diferentes possibilidades de produção e consumo que estão disponíveis para ele. Essa avaliação é essencial para que o agente possa escolher a alternativa que lhe proporcionará o maior benefício e eficiência na utilização dos recursos, ainda mais quando esses recursos se encontram na posse de outros agentes econômicos, e, o produtor depende de trocas voluntárias com terceiros para lograr êxito em sua produção ou na melhor utilização de suas disponibilidades (no caso de uma pessoa física suprindo sua própria necessidade e/ou de sua família). 

Essa maximização da utilização dos recursos, com o fim único de angariar a maior quantidade de satisfação com a menor quantidade do bem primário ou angariar a maior quantidade de eficiência na cadeia produtiva, produzindo mais bens de ordem inferior com cada vez uma parcela menor de bens de ordem superior - isso se chama maximização da produtividade baseada na eficiência da utilização dos recursos. No caso do cálculo econômico microfundamentado, o objetivo é a satisfação das necessidades humanas nesse "paradigma da eficiência" anteriormente definido. 

Logo, temos duas variáveis que servem de objetos de estudo para nós, aspirantes da teoria econômica mengeriana: 1) Compreender a dinâmica da oferta de bens em uma economia de mercado e como ela se relaciona com o cálculo econômico microfundamentado; e 2) Compreender o papel da maximização da produtividade baseada na eficiência da utilização desses recursos obtidos a partir da oferta em uma economia. Portanto, vê-se, que diferentemente da seção anterior desse trabalho, onde estávamos interessados apenas nos bens de qualquer ordem e as suas relações com a previdência, tempo e demanda, agora temos outro escopo para a observação dos fatos.

Menger então, observa que, em condições ideais, a oferta em uma economia nacional pode ser mensurada através da inventariação e da avaliação dos estoques de bens de qualquer ordem e de bens complementares que possuem em estoque. Esse controle, porém, na vida prática está limitada para com os indivíduos, que geralmente são empresas que possuem um refinado controle de estoque de bens para a venda. O resto dos indivíduos, geralmente que não possuem atividade empresária, se contentam a não precisar seus bens com afinco, limitando-se a ter percepções gerais de seu patrimônio, uma vez que não utilizam dos métodos maximizadores de eficiência da mesma forma que os industriais, por exemplo. Menger então observa que, desde tempos imemoriais o ato de inventariar os bens, tanto comuns como particulares, sempre foi algo natural para o ser-humano. Afinal, desde muito preocupamo-nos com as intempéries que podem abalar a estrutura civilizacional de tempos em tempos, já discutimos isso na seção em que debatemos a previdência. Mas agora, a dimensão da oferta se amalgama com o conceito de previdência para evidenciar o planejamento microfundamentado como algo de suma importância para a preservação da satisfação das necessidades humanas no futuro.

Portanto, em uma sociedade de mercado, onde a produção de bens que geram a satisfação das necessidades não dependem inteiramente do indivíduo (com o êxodo rural e a divisão do trabalho produzida pela expansão dos nexos causais na dimensão produtiva, os homens tacitamente "terceirizaram" a produção de certos bens que dependem e que não são objeto de produção de sua área de especialização) é inegavelmente importante, além de conhecer e avaliar o próprio próprio inventário de bens que, nos termos de intercâmbio são o que um indivíduo pode oferecer como troca em uma sociedade baseada em trocas voluntárias (lógico que aqui, omito a figura do dinheiro, que, em termos de troca, substitui o papel dos bens de um agente de mercado na contrapartida em uma transação), conhecer também a disponibilidade quantitativa dos recursos alheios.

A funcionalidade de um mercado livre, de trocas voluntárias, depende do conhecimento dos agentes econômicos sobre os bens disponíveis no mercado. Isso ocorre porque, para tomar decisões racionais sobre a troca de bens, os agentes econômicos precisam saber quais bens estão disponíveis, quantos existem e a que preço podem ser adquiridos. Essa informação é essencial para que os agentes econômicos possam avaliar as oportunidades de troca e maximizar seu benefício. Por exemplo, um consumidor que está considerando comprar um novo carro precisa saber quantos carros estão disponíveis no mercado, quais são suas características e quanto custam. Essa informação é necessária para que o consumidor possa comparar diferentes opções e escolher o carro que melhor atende às suas necessidades. Outro exemplo seria: um empresário que está considerando investir em um novo negócio precisa saber quais são os bens necessários para a produção, quantos desses bens estão disponíveis no mercado e a que preço podem ser adquiridos. Essa informação é necessária para que o empresário possa estimar o custo da produção e decidir se o negócio é ou não rentável.

Portanto, podemos estabelecer que, para vislumbrarmos o grau de liberalidade no intercâmbio e, de certa forma formularmos um parâmetro qualitativo para avaliar a condução das trocas voluntárias, podemos examinar o ímpeto com que os preços e inventários de bens alheios se tornam interesse dos agentes econômicos. Menger diz também que o surgimento da profissão dos 'agentes comerciais' é um sintoma da robustez do mercado, uma vez que esses indivíduos trabalham exclusivamente na atividade de levantamento dos estoques e estimativas e interpretações de dados econômicos.

Comentários