A natureza das necessidades, satisfações, utilidade e bens em Menger

§1. A natureza dos bens; "Todas as coisas são regidas pela lei da causa e efeito": Menger, como um homem de seu tempo, procura explicar as relações materiais a partir de um pressuposto científica, de acordo com leis e teoremas gerais. Hertbert Spencer, John Stuart Mill, Augusto Comte, dentre outros célebres nomes estavam desenvolvendo teorias no âmbito das ciências sociais a partir de predicados científicos e formais. Aqui vê-se toda a influência do cientificismo onde a busca por leis universais e a aplicação do método científico eram consideradas fundamentais para entender e explicar os fenômenos sociais.

Menger então, define como utilidades como "todas as coisas que são capazes de serem colocadas em nexo causal com a satisfação de nossas necessidades". Portanto, para o autor, é próprio da natureza humana (sua personalidade, como ele diz), a ação de forças endógenas que alteram o estado de satisfação para um estado de necessidade. Essas necessidades podem ser de diversas sortes, que agem sobre diferentes dimensões da complexidade humana, desde as necessidades mais básicas, como as fisiológicas, até as mais complexas, decorrentes da própria condição do ser humano como um ser pensante, tal como a anomia.

Para o autor, esse estado de necessidade poderá ser suprido de forma interna e de forma externa. A utilidade, então é o efeito que age sobre o estado de necessidade para supri-lo e transformá-lo no estado de satisfação, mas, a utilidade em si é subjetiva, pois ela necessita de uma materialização corpórea (no caso de uma satisfação de uma necessidade exógena), para agir sobre o estado de necessidade. Neste caso, a materialização corpórea da "força" (podemos assim chamar pois a utilidade atua como uma força que não se pode ver, pois ela é materializada sobre a forma de um bem, para só assim transformar o estado de necessidade no estado de satisfação), atua sobre a materialização de um bem. Segundo Menger, "denominam-se bens na medida em que reconhecemos o nexo causal e temos a possibilidade e capacidade de utilizar as referidas coisas para satisfazer efetivamente às nossas necessidades". Ou seja, para algo denominar-se bem, ele necessita estar conectado por meio de um nexo causal (relação de causa e efeito entre dois eventos ou variáveis) com a satisfação da necessidade em si, e a sua transformação do estado de necessidade para o estado de satisfação, ou seja, ela necessita estar conectada com a "força" motriz para se classificar um bem, a utilidade.

A seguir, Carl Menger elenca as condições para que uma coisa adquira a qualidade de um bem:

A existência de uma necessidade humana: para que algo seja considerado um bem por alguém, é necessário que ele possua algum tipo de utilidade para o sujeito em questão, ou seja, ele necessitará transformar um estado de necessidade em um estado de satisfação. Ou seja, antes de algo ser considerado um bem, é necessário existir uma necessidade. Como é natural todos os seres-humanos possuírem necessidades, essa condição estabelece que, antes de existir um bem, é necessário existir um sujeito. Essa subjetividade é um aspecto que permeia toda a teoria econômica de Carl Menger, afastando-o das teorias herméticas do seu tempo.

Que a coisa possua qualidades tais que a tornem apta a ser colocada em nexo causal com a satisfação da referida necessidade: aqui é onde acontece a checagem da "força" motriz de um bem, que é a utilidade. É necessário estabelecer quais são as necessidades do sujeito, e se esse estado poderá ser transformado a partir de determinado bem, por exemplo, se eu tenho sede, um copo d'água (bem) irá saciar a minha sede (necessidade), me deixando hidratado (satisfação). A capacidade da água de me hidratar (utilidade) é a característica que transforma a água em um bem. Portanto, na análise do nexo causal, podemos indicar duas variáveis, a valer: o bem e suas capacidades de satisfazer determinadas necessidades (limitadas) e o sujeito, com a capacidade de desejar e necessitar de coisas diferentes.

O reconhecimento, por parte do homem, desse nexo causal entre a referida coisa e a satisfação da respectiva necessidade: cabe à cognição do sujeito que necessita de algo avaliar e compreender a relação entre a coisa em questão e a realização de sua necessidade específica. Esse reconhecimento implica uma conscientização por parte do indivíduo de que o bem em consideração é capaz de desencadear efetivamente a satisfação da sua necessidade.

O homem poder dispor dessa coisa, de modo a poder utilizá-la efetivamente para satisfazer à referida necessidade: munido da minha cognição, sabendo que determinada coisa é um bem e que poderá satisfazer minhas necessidades, torna-se essencial que eu tenha a capacidade real de dispor e utilizar esse bem de maneira eficaz. Essa etapa implica na acessibilidade física, legal ou prática ao bem em questão. Mesmo que haja o reconhecimento da utilidade do bem, é necessário que o sujeito tenha os meios necessários para adquiri-lo ou utilizá-lo conforme suas necessidades.

Ou seja, para Menger, a possibilidade de algo existir como um bem para um sujeito específico depende exclusivamente da convergência de todas as características acima. Portanto, objetos que não são fruto de alguma necessidade humana real (a saber varinhas de condão, placebos e etc.) não são considerados bens para Carl Menger.

Menger, em seguida, classifica os bens em duas categorias, bens reais (bens-coisas - incluindo forças da natureza, na medida em que são bens e comprem a funcionalidade de satisfazer necessidades humanas, como a chuva, por exemplo) e as ações humanas úteis (e as omissões), dentre as quais a mais importante é a prestação de serviços.

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