A importância da dimensão temporal e do controle na produção. Como o estabelecimento de nexos causais poderá auxiliar no aprimoramento da produção. Teoria mengeriana.
Obedecendo as leis anteriormente explicitadas, que são: a) para que um bem de ordem inferior seja realmente considerado como tal, devemos possuir os bens complementares da mesma ordem; e b) para que um bem de ordem inferior seja realmente considerado como tal, devemos possuir os bens de ordem inferior correspondentes. Passamos para a próxima seção da obra de Menger.
§4. Tempo e o Controle: Menger aqui explicita uma relação intrínseca e inseparável entre o nexo causal dos bens, sua progressiva transformação de bens de ordem superior (com o auxílio dos bens complementares) para bens de ordem inferior, com essa cadeia chegando até os bens de primeira ordem, satisfazendo assim às necessidades humanas, e a dimensão temporal. Ora, este processo (de transformação, melhoramento, cultura e etc.) só é possibilitado através da intervenção de forças exógenas ao bem de ordem superior em si, e isso só se dá através de um processo material, que é perpetrado com o passar do tempo, uma dimensão intransponível no mundo material. Portanto, é evidente que toda a transformação de um bem de ordem superior em um bem de ordem inferior necessita de tempo.
O tempo empregado na transformação de bens de ordem superior em bens de ordem inferior é variável, uma vez que fatores como a tecnologia, técnica, agilidade dos mercados e comunicação conseguem abreviar esse lapso temporal que perdura da obtenção dos bens de ordem superior, a combinação destes com os bens complementares (se houverem) e o processo da transformação em si. Agora, dependerá da distância que um bem de ordem superior para com o bem de primeira ordem (que é o que satisfaz DIRETAMENTE as necessidades humanas) para considerarmos o tempo a ser utilizado pelo sujeito ativo. Uma coisa é certa, o tempo sempre estará presente, independentemente do tipo de transformação.
Aqui, Menger explicita o cerne de sua consideração acerca do Tempo com os bens de ordem superior: "Portanto, os bens de ordem superior adquirem e fazem valer a sua qualidade de bem não em relação a necessidades imediatamente presentes, mas apenas em relação a necessidades que, de acordo com a previsão humana, só existirão concretamente no momento em que se encerrar o processo de produção de que vimos falando". Ou seja, os bens de ordem superior só possuem nexo causal pois somos munidos de cognição para entendermos e prevermos nossas necessidades futuras. E o conceito de tempo está intrinsecamente ligados aos bens de ordem superior, pelo simples fato de que eles só serão efetivamente transformados em bens de ordem inferior com o passar do tempo, e, há, evidentemente, uma relação estreita entre o quão alta a ordem de um bem é em relação ao tempo dispendido para a sua transformação em um bem de ordem inferior e a satisfação efetiva da necessidade humana através de sua utilidade.
Outra consideração apontada por Menger aqui é a de que quase nunca se pode ter certeza da quantidade de bens de ordem primária (bens que satisfazem diretamente nossas necessidades) resultarão do processo da transformação a partir dos bens de ordem superior. No entanto, quanto menor for a ordem do bem, com mais certeza e precisão poderemos estipular a sua quantidade resultada no processo de produção de bens de ordem inferior. Por exemplo, se eu possuo trigo (bem de segunda ordem) e todos os bens complementares que são necessários para a transformação do trigo em pão (bem de primeira ordem), como a água e o fogo, eu posso estipular a quantidade de pão que vou possuir após o final do processo de produção. Agora, se eu tenho apenas o trigo in natura, que seria um bem de ordem superior, eu não posso precisar a quantidade de pão que poderei obter a partir da transformação de um bem de terceira ordem para um bem de segunda ordem, e depois de um bem de segunda ordem para um bem de primeira ordem. Ou seja, por via de regra, quanto maior for a ordem de um bem, menor será a precisão ao estipularmos a quantidade de um bem de primeira ordem que será resultado a partir do processo de produção.
Porém, como Menger evidencia, por conta de fatores inerentes à diversas áreas de produção, setores distintos poderão oferecer ao produtor uma maior previsibilidade a partir dos bens de ordem mais elevada. Por exemplo, se compararmos uma fábrica que produz sapatos com uma plantação de batatas, é evidente que, na fábrica, a partir dos insumos adquiridos, um gerente hábil conseguirá, a partir de estimativas, obter a quantidade de sapatos que a fábrica produzirá no final do período estipulado. É claro que a fábrica não estará imune para com situações adversas, como produtos estragados, erros de produção, máquinas com defeito, dentre muitas outras variáveis que podem e, provavelmente devem ocorrer no processo fabril, mas, quando comparado com a plantação de batatas, por exemplo, a quantidade de variáveis que podem incidir sobre uma plantação são mais numerosas quando comparadas com a indústria, pois dependem de variáveis naturais incontroláveis.
Menger conclui, estabelecendo uma relação entre a perícia do produtor com a capacidade de estabelecer e identificar os nexos causais que interferem em uma área específica, além de mencionar os aspectos quase randômicos que podem acontecer no decorrer do tempo em uma produção: "O maior ou menor grau de segurança na previsão da qualidade e quantidade do produto, de que as pessoas dispõem em função dos bens de ordem superior ao seu alcance, necessários para a produção de bens, depende do maior ou menor conhecimento que elas têm dos elementos do processo causal em nexo causal com a produção dos respectivos bens, assim como do grau em que esses elementos estão ou não sujeitos ao controle humano".
Aqui, observamos e destacamos algumas relações que não parecem de muito implícitas nas falas de Menger. Um exemplo disso é a capacidade do produtor capacitado de reconhecer cada vez mais bens de ordens superiores, e compreender como essa infinidade de bens de ordem superior podem interferir na qualidade/quantidade do bem de ordem inferior que ele deseja produzir. Por exemplo, um agricultor experiente, considerará além dos bens palpáveis de ordem superior, que provavelmente ele adquiriu de forma direta, como: terra, adubo, maquinário, dentre outros, ele mensurará como as variáveis exógenas, como a chuva, impactam diretamente na sua produção e na transformação de bens de ordem superior em bens de ordem inferior. Ele deverá considerar também a composição química do solo, que agora, estabelecido o nexo causal com o bem de ordem inferior, passa a ser considerado um bem de ordem superior para o agricultor.
Portanto, quanto mais conhecimento que o produtor possui sobre a sua produção, a maior conexão de nexos causais ele consegue estabelecer e um maior controle/aprimoramento e previsibilidade ele conseguirá exercer sobre o bem de ordem inferior. Ou seja, apesar do produtor nunca conseguir eliminar as incertezas completamente do processo produtivo, através do estabelecimento de maiores e mais encadeados nexos causais, o produtor conseguirá mitigar esses efeitos, aprimorando o produto de ordem inferior. Esse aprimoramento poderá ocorrer através da dimensão qualitativa, quantitativa ou qualitativa-quantitativa.
Comentários
Postar um comentário