Pedidos de seguro-desemprego e a transmissão da política monetária (09/11/2023)

 Acabaram de sair os dados sobre os pedidos de seguro-desemprego. Entender as dinâmicas do mercado de trabalho é fundamental para compreender e medir a atividade de determinada economia. Se o mercado de trabalho está aquecido, entende-se que as pessoas estão aptas para consumir e fazer suas poupanças, por outro lado, as empresas estão dispostas a manter ou até expandir suas operações, uma vez que estão contratando, ou pelo menos, não demitindo pessoal. A situação fica mais complexa se botarmos mais um ingrediente nessa equação: a inflação. 

A inflação, termo definido por muitos e parece carecer de um sentido estrito, geralmente é definido pelos economistas como o a média do aumento geral dos preços, ou seja, a pressão exercida sobre os preços em determinado período de tempo. Em uma situação de atividade aquecida, devido à pressão da demanda agregada sobre a oferta em determinada economia, que a própria demanda supere a oferta, ou seja, a quantidade de pessoas comprando bens supera a própria quantidade de bens, em situações como essa, os bens começam a escassear, e, naturalmente, seus preços sobem.

Nos Estados Unidos temos a seguinte situação: o Federal Reserve vêm aplicando políticas monetárias contracionistas para conter a inflação. Essas políticas monetárias contracionistas visam retirar liquidez da economia, e, consequentemente, conter a demanda agregada, uma vez que os meios circulantes se escasseariam e as condições de crédito, emprego e consumo ficariam mais prejudicadas. A tendência natural é de que conforme o Fed aplique suas políticas monetárias contracionistas, por falta de meios de condições acomodatícias, os agentes de mercado ajustem as suas operações individualmente, e, juntos, acabam refletindo as suas próprias condições para os "agentes micro", que somos nós. Então, podemos entender essa cadeia de eventos como "transmissão da política monetária", uma vez que as condições "frouxas" ou "apertadas" de política monetária dos bancos centrais perpassam uma cadeia de "agentes macro", que são as instituições financeiras (e alguns outros agentes no caso de políticas monetárias como o afrouxamento quantitativo), para depois de assimiladas essas condições, os agentes macro transmitirem essas condições para as empresas e consumidores por meio de condições mais apertadas de financiamento para empresas e crédito para pessoas físicas, por exemplo.

A depender das condições prévias de uma economia, como por exemplo a quantidade de meios circulantes acumulados e fora do sistema econômico, a resiliência por acúmulo de capital prévio, outras fontes de financiamento, atividade estagnada, dentre uma outra infinidade de motivos, a transmissão das condições impostas pelo banco central podem ter um "lag", ou seja, um espaço de tempo até as condições apertadas serem sentidas pela economia, e muitas vezes, para fazer sentir cada vez mais rápido as condições impostas, o banco central pode aumentar a intensidade para ela ser sentida de imediato. Através dos leilões e da compra/venda de títulos públicos federais, os agentes de mercado precificam o nível desse aperto traduzidos em sua dimensão cronológica conforme a maturação escolhida do título, essa é uma forma de entendermos as expectativas dos agentes econômicos para as condições acomodatícias em um determinado período de tempo.

Portanto, quando enxergamos os Estados Unidos mostrando dados resilientes de sua economia mesmo em temos de aperto monetário (o maior desde 2001), os agentes econômicos precificam que essas condições ou continuarão apertadas por mais tempo, ou se agravarão ainda mais. Por isso, vimos semana passada os yields dos títulos de 10 anos chegando perto de 5%. Isso são os agentes de mercado precificando que as condições acomodatícias permaneceriam "apertadas por mais tempo", "higher for longer". Isso tem implicações diretas no mercado, uma vez que a atividade econômica se prejudica com altos custos de financiamento, e os Tesouro precisará pagar juros mais altos de serviço da dívida. Isso também tem implicações no câmbio, com o dólar valorizando pois está sendo comprado para investidores estrangeiros investirem nos títulos do Tesouro (seguros e sendo precificados com altos rendimentos) e manterem como reserva de valor, uma vez que os juros altos conterão a inflação subjacente à moeda.

Portanto, dados como vimos nessas últimas duas semanas, com mais pessoas pegando o seguro-desemprego, significa que o aperto monetário perpetrado pelo Fed está começando a ser sentido na economia real (depois de meses de resiliência e com o mercado de trabalho crescendo vertiginosamente). Com a economia real sentindo as políticas contracionistas e as piores condições para florescer a demanda, a inflação diminuirá cada vez mais (a não ser que ocorra algum fator exógeno ou estrutural a partir da oferta, causando um tipo diferente de inflação, mas pouco provável de acontecer), com os juros altos favorecendo a poupança e contraindo o gasto e atividade. Quando as condições inflacionárias e de poupança e investimento em ativos fixos e bens de capital estiverem normalizadas, a tendência é que os juros abaixem e a atividade volte a crescer. 

Comentários