A Alemanha e a Compreensão dos Ciclos Monetários (20/11/2023)

 Novos dados do PPI (Producer Price Index) indicaram por mais uma vez, uma desaceleração constante, que podem ser avaliados a partir de duas óticas distintas: a queda no preço das commodities energéticas e a demanda vacilante por conta do custo do crédito.

O PPI indicou uma deflação de 0,1% no mês de outubro, após uma desaceleração ainda maior em setembro, quando caiu 0,2%. Em bases anuais, a queda do PPI alcança o patamar de 11% no mês de outubro. Isso indica que as condições para com os preços das commodities, como um todo se tornaram mais maleáveis, uma vez que as cadeias de suprimento aos poucos estão se desobstruindo, mesmo com as pressões reais de conflitos e sanções, figurando como uma ampliação no lado da oferta, tendo em vista que o comércio internacional aos poucos vai se desobstruindo. 

Por outro dado, a demanda se enfraquece cada vez mais, com países reportando dados de crescimento mais lentos. Com isso, a perspectiva da demanda por commodities no comércio exterior se torna diminuta, uma vez que menos projetos estão sendo financiados pelo alto custo de crédito global, caracterizando-se no final de um ciclo de retração global (onde as economias elevam suas taxas de juros e praticam políticas econômicas restritivas, com o fim de arrefecer pressões inflacionárias). 

Nessa fase do ciclo, enquanto a inflação se arrefece e as taxas de juros estão altas, ocorre um acúmulo de capital, uma vez que seus detentores estão menos aptos a financiar novas incursões empresariais por conta do cenário contracionista. Acumulando o capital suficiente através de taxas de depósitos altas, o custo do crédito uma hora tenderá a cair, e nesse ínterim, os agentes econômicos se apressarão para angariar bens de capital para a próxima fase do ciclo (portanto precisamos nos atentar ao acúmulo de bens de capital para identificarmos a "alvorada" de um novo ciclo de expansão). 

Na fase atual do ciclo econômico, podemos ver uma atividade diminuta do setor industrial e um setor de serviços vacilante, indicando que a partir desse momento, os consumidores já gastaram o capital "represado" nos tempos de flexibilização monetária. O arrefecimento da inflação é sinal de que a fase de contração está se encaminhando para o seu fim. Portanto, é importantíssimo o monitoramento dos canais de transmissão de política monetária, e compreendê-los é essencial para entender como os ciclos econômicos funcionam. 

No nosso caminho para essa compreensão, encontramos algumas situações diferentes como as que acontecem como na Zona do Euro ou na China, porém, mesmo apresentando elementos retardatários, ou seja, economias que não estão "compassadas" com o restante da economia global, pela transmissão das taxas de juros entre bancos centrais, e os impactos internacionais das medidas econômicas e monetárias, tendo o dólar um papel de "compasso" para todas as economias globalizadas e participantes do sistema de comércio exterior, esses fatores anômalos tendem a seguir o mesmo caminho das condições naturais dos ciclos econômicos.

O Bundesbank, balizado pela sua própria compreensão das condições atuais da economia, mesmo com uma retração no terceiro trimestre desse anos, está projetando uma recuperação para o quarto trimestre de 2023, e uma expansão subjacente no primeiro trimestre de 2024. 

Portanto, temos de entender que os ciclos econômicos e os ciclos de crédito estão intimamente ligados, e devemos entender sua correlação negativa com os ciclos inflacionários, que são praticamente inevitáveis na dimensão econômica moderna, e que, através das políticas monetárias, os bancos centrais tentam "abrandá-las". Se fazem, ou não um bom trabalho, o tempo dirá.

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